17 de junho de 2010

À Procura da Felicidade

"We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal, that they are endowed, by their Creator, with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty, and the Pursuit of Happiness". (Preâmbulo da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América, escrita em 1776)

Ontem eu assisti, pela quarta vez, o maravilhoso "À Procura da Felicidade". Infelizmente, o filme que rendeu o Oscar de melhor ator para Will Smith (Chris Gardner) não teve uma boa repercussão no Brasil e dificilmente entrará para a história do cinema.Claro, isso se devesobretudo ao número excessivo de recursos estéticos que foram incutidos na obra para "chocar" o público.

Tudo começa nos anos 80, em São Francisco. O protagonista desta história é Chris Gardner, um vendedor frustrado que vê num desconhecido que estaciona a sua Ferrari em frente à Bolsa de Valores a perspectiva de um futuro melhor. Já em sua casa, Gardner assiste um discurso em que o então presidente Ronald Reagan, culpa os excessivos gastos do governo pela situação delicada em que a economia do país se encontra.

É importante salientar que durante o seu governo,
Reagan implementou uma série de reformas econômicas radicais. A política de recuperação econômica implementada no primeiro ano do seu mandato consistia em fornecer estímulos à oferta (supply-side economics) e incluia diversas medidas de desregulamentação e cortes de impostos. Antes do presidente Reagan tomar posse, os Estados Unidos viviam um período de estagflação (estagnação econômica com inflação) e foi graças ao pacote de reformas apelidado de Reaganomics pelo economista Paul Harvey, que o american way of life foi preservado. Por essas e outras, acredito que alusão aquele discurso não foi obra do acaso.

A procura da felicidade, mencionada reiterada vezes no filme, não é um simples clichê. Trata-se de uma expressão cunhada por Thomas Jefferson para descrever o direito de todo o indivíduo de não ser forçosamente impedido de orientar a sua vida, de acordo com os seus próprios princípios e pelos meios por ele adquiridos. Num sentido menos poético, a "procura da felicidade" é uma síntese do pensamento de John Locke, filósofo do Iluminismo inglês: "o direito dos indivíduos de deterem a propriedade privada e com ela adiantarem os seus fins".

Esse pensamento norteia todo o filme e nos leva a uma reflexão sobre os valores que propiciaram o surgimento da nossa práxis política. Diferente dos americanos, nossa cultura política deriva da Revolução Francesa e da divisa "liberté, égalité, fraternité". Se fossemos herdeiros da tradição anglo-saxónica, leríamos este lema como "direito do indivíduo de não ser coagido (sobretudo pelo Estado), direito à igualdade perante a lei, direito à sua própria moralidade". Como não somos, a expressão acabou imantando a promoção estatal de direitos "sociais" ("liberdade" de condicionamentos econômicos), o igualitarismo e "solidariedade social" - vulgo peleguismo.

Hoje em dia, a parte mais importante da "felicidade" do cidadão brasileiro é "garantida" pelo Estado. Do berço ao túmulo, somos coagidos a entregar ao Estado, metade de tudo aquilo que produzimos ao longo das nossas vidas. Ao invés de buscar a nossa própria felicidade por meio das realizações individuais, somos obrigados a dedicar uma parte substâncial das nossas vidas à procura da "felicidade" do Estado Social. Em troca, recebemos a "garantia" de que teremos direito a saúde, a educação e a inúmeros "direitos sociais" que nos são oferecidos numa embalagem de tamanho único, criada para parecer irrecusável. Nessa equação, a liberdade para gerir o fruto do seu trabalho, a sua propriedade privada, é menosprezada e muitas vezes confundida com egoísmo.

Enquanto não recolocarmos o direito à "procura da felicidade" no centro das políticas públicas e rejeitarmos o megalômano e intrusivo Estado Social em benefício de um sistema político-administrativo limitado nas suas funções, continuaremos sendo vítimas da ambição dos nossos governantes. Enquanto não aprendermos o caminho da auto-suficiência e do respeito pelas liberdades individuais, continuaremos sendo vítimas da nossa própria debilidade.

Essa é a mensagem transmitida pelo filme, que nos Estados Unidos é tratado como um libelo à liberdade. Através de valores como a esperança, a honestidade e a integridade, Chris Gardner nos ensina a superar as adversidades sem ignorar os nossos princípios. Essa lição deve ser assimilada, sobretudo, por aqueles sociólogos e intelectuais que tentam criar uma associação de causalidade entre a pobreza e a criminalidade. Faço votos de que todos o assistam, pois em um país onde o povo está acostumado a pensar somente no que o governo pode oferecer, onde Che Guevara ainda é cultuado e a iniciativa privada é tratada como inimiga dos mais pobres, nada é mais alentador que a história de um homem que conhece bem de perto a miséria e sai dela por conta própria, tornando-se um multimilionário.

A propósito: O dinheiro é apenas um subproduto, um indicador do sucesso de Gardner. A verdadeira conquista está na integridade de um homem que soube vencer barreiras inacreditáveis para educar seu filho de maneira digna e honesta.

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2 comentários:

  1. Eu adorei esse filme! Me emocionou e me levou as lágrimas! :_)

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  2. Lindo filme e muito significativo. Veja de novo daqui uns meses e se surpreenderá novamente.

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