26 de julho de 2010

Estadounidense? Que diabo é isso?

Um dos sintomas mais claros de antiamericanismo agudo é usar o termo estadunidenses para se referir aos americanos. A palavra existe e consta nos dicionários, mas é daquelas que ninguém usa. Ou melhor, ninguém usava, porque parece que a moda está pegando. Nesse modelo de isenção que é a wikipedia em português, o termo aparece 18 vezes no verbete Estados Unidos da América. Mas o que há de errado com ele? Ora, para defendermos o uso, mas do que descabido, deste termo, precisamos ignorar a lógica e talvez até o bom-senso! Eu explico: o nome oficial do México, aquele país onde as pessoas ainda usam ponchos e sombreiros, é Estados Unidos Mexicanos. Portanto, há menos que estejamos dispostos a chamar os mexicanos de estadounidenses, tal como fazemos com os americanos, não faz sentido algum defender essa bobagem.

Além do mais, o uso da palavra estadounidense é sempre político, embora muitos não admitam. A explicação oficial é que americano é quem nasce nas Américas, portanto não seria uma designação suficiente. Norte-americano também não, já que o México e o Canadá também fazem parte da América do Norte. Daí a necessidade de criarmos uma palavra capaz de se referir especificamente aos americanos que nascem nos EUA. Parece lógico, mas não é! Esse imbróglio linguístico é lindo na teoria, mas inviável na prática. Para dar certo, teríamos que unificar de vez os gentílicos. Imaginem o caos que seria. Ao invés de ludovicenses, soteropolitanos e manauaras, teríamos sãoluisences, salvadorenses e manausenses.

Aproveitando o embalo, poderíamos também adotar riodejaneirense, paulistense, paulistanense, riograndedosulense, riograndedonortense, paraibense, pernambuquense, minasgeraisense, espiritosantense e por aí vai. Piauienses, cearenses, paraenses e paranaenses já estariam em conformidade, mas catarinenses talvez tivessem que mudar para santacatarinenses. Ainda a título de clareza, se essa estupidez colasse, não seríamos mais cariocas, e sim riodejaneirenses. Vai que os índios carijós se sentem órfãos do termo carioca que quer dizer "casa de carijó".

E pra que ficar restrito ao Brasil? Mudemos o nome da República da África do Sul (sugiro Mandelândia), afinal Namíbia, Botswana, Zimbabwe e Moçambique também são repúblicas e também ficam no sul da África. Percebem o tamanho da ignorância?

O fato é que já faz algum tempo que chamamos os americanos de americanos, um gentílico consagrado por Machado de Assis, que em seu famoso ensaio "Instinto de nacionalidade", chama Henry Wadsworth Longfellow, de "cantor admirável da terra americana". Não se trata de dizer que está certo porque Machado escreveu, mas de provar que esse uso está enraizado em nossa cultura.

Além do mais, o argumento que diz que todos devemos nos referir aos americanos como estadounidenses não possui sustentação lingüística alguma. Perguntem a um professor de português, qualquer um, se é estadounidense (sem hífen) ou estado-unidense (com hífen)? Dúvido que ele saiba a resposta, porque essa palavra é uma verdadeira aberração semântica. Enfim... É uma lógica que deixa de levar em conta um princípio básico das línguas: palavras podem ter mais de uma acepção. Americano é uma coisa sem, naturalmente, deixar de ser a outra.

Sempre existirão aqueles que, quase sempre por razões político-ideológicas, preferem o sabor vagamente espanholado do termo estadunidense (ou estado-unidense), mas daí a chamarem de vendido ou ignorante quem se atém à corrente principal da língua... Com isso eu não posso concordar!

Sugiro aos leitores darem uma fuçada na Internet e procurarem o artigo "Estadunidenses", de Demétrio Magnolli. Se não me falha a memória, esse artigo foi públicado num editorial do Estadão, em 2005.

Bookmark and Share

Ontem foi dia do escritor

Da pena do parnaso de Olavo Bilac à porno Bic de Arnaldo Jabor, nada mudou para o escritor.

Por quê? Veja abaixo.































A "Síndrome do Papel Branco", ou da tela branca (ou amarela) acima, continua igual.

Feliz dia do escritor a todos!

Bookmark and Share

12 de julho de 2010

Na savana africana ou nas florestas brasileiras, o mau é o mau independente de quem o pratica

Semana passada eu publiquei uma notícia, extraída do portal G1, que falava sobre o horror da mutilação genital feminina. O clipping cita alguns trechos do livro "A Infiel, de Ayaan Hirsi Ali, e dá uma pequena mostra do horror a que aquelas mulheres são submetidas. A autora nasceu na Somalia, um dos países africanos em que as tradições tribais se misturam ao fundamentalismo islâmico. Nos países governados por esse mixto de tribalismo e islamismo, as mulheres são privadas da sua dignidade e se transformam em propriedades da população masculina que usufrui livremente dos seus "serviços".

É preciso ter muito coragem para desvelar a crueldade das pessoas que submetem as suas mulheres e filhas a um sofrimento assim; sobretudo nos tempos de hoje, em que imperam as ditaduras do políticamente correto e da autodeterminação dos povos. Manifestar-se contra esse ou qualquer outro costume tribal equivale a ser acusados de contrariar as tradições ancestrais do povo africano, dos seus valores familiares, tribais e etc. Por conta disso, o número de mulheres atingidas por este malefício continua crescendo. O relatório "Mudar uma convenção social nefasta: a mutilação genital feminina", divulgado no ano passado, aponta um aumento de dois para três milhões de vítimas por ano em relação a estudos anteriores e alerta para o fato da mutilação genital feminina já ter se tornado uma prática rotineira em 28 países da África sub-sariana e do Oriente Médio.

A prática da excisão varia de acordo com a cultura do povo que a adota. Uns são mais "moderados" outros perderam por completo qualquer noção de humanidade e aderiram ao barbarismo puro e simples. No oeste da África e na Indonésia, os nativos retiram o capuz do clitóris naquilo que a Unicef e a OMS convencionaram chamar de "excisão mínima". No leste africano (Djibuti, Etiópia, Somália, Sudão, Egito, Quênia), a infibulação, também chamada de excisão faraônica, amputa o clitóris e os pequenos lábios, secionando os grandes lábios com espinhos de acácia. Nesse modelo de excisão, apenas uma minúscula abertura destinada ao escoamento da urina e da menstruação é deixada. Esse orifício é mantido aberto por um filete de madeira, que é, em geral, um palito de fósforo. As pernas devem ficar amarradas durante várias semanas até a total cicatrização da vagina. Assim, a vulva desaparece sendo substituída por uma dura cicatriz. No casamento, a mulher é "aberta" pelo marido ou por uma "matrona".

E o sofrimento não para por aí! Após o nascimento do primeiro filho, a mulher é novamente infibulada. A operação é sempre feita por mulheres (matronas) em suas próprias casas ou nas casas dos pais da vítima, em troca de presentes pelo trabalho efetuado. A menina é posta no colo de sua mãe que segura suas pernas abertas. A vagina é então mutilada, sem anestesia, por instrumentos como uma lâmina de barbear, uma faca de lâmina flexível, tesouras ou até mesmo cacos de vidro. São inúmeras as conseqüências. Esse momento abominável pode provocar um choque cardíaco, grandes hemorragias ou sangramentos contínuos que levam à morte. Isso para não falar nos hematomas e queimações ocasionados pela passagem da urina. Não é raro ver mulheres mutiladas sofrendo com perturbações menstruais, infecções locais, urinárias e genitais que motivam a esterilidade; partos complicados, repercussões na saúde mental, como ansiedade, angústia, depressão e etc.

Mas por que estou narrando todos esses horrores? Porque há uma certa classe de intelectuais que credita que nós não devemos fazer absolutamente nada quanto a isto. Segundo eles, não podemos interferir nas tradições culturais de outros povos, pois isso seria etnocentrismo. Etnocentrismo é um conceito antropológico, segundo o qual a visão ou avaliação que um indivíduo faz de um grupo social diferente do seu é baseada nos valores, referências e padrões adotados pelo grupo social ao qual o próprio indivíduo pertence. É como ver o mundo a partir de si mesmo... Ora, não poderia haver absurdo maior do que este! Ser contra um malefício que aflige milhares de mulheres mundo afora e considerar-se superior as pessoas que o praticam não tem absolutamente nada de preconceituoso. Muito pelo contrário, é dever da sociedade civil organizada lutar para que este tipo de atrocidade encontre o seu fim tão logo quanto possível, pois aqueles que são tolerantes com a maldade mais cedo ou mais tarde acabam se tornando vítimas dela.

Decidi escrever sobre este assunto após ter lido uma notícia antiga que afirma que o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro está investigando o "Programa do Jô", por uma suposta manifestação de preconceito. Segundo a procuradoria, houve denúncias sobre uma entrevista que abordava a questão de mulheres submetidas à cirurgia no clitóris na África e que comentários do apresentador podem ter manifestado preconceito em relação a hábitos e costumes culturais daquele continente. Naturalmente, as entidades que levaram a denúncia ao MPF acusaram o programa de desrespeito a comunidades negras, claro. Confesso que não vi este episódio do programa, mas pelo caráter jocoso do apresentador eu suponho que ele tenha feito alguma piada com os adeptos desses costume hediondo que a redatora da notícia eufemisticamente chama de "cirúrgia". Também não sei em que pé anda essa denúncia - ou se já deixou de andar - mas fico estarrecido por constatar que já temos multicuturalistas dispostos a defender uma brutalidade como essa, em nome das suas convicções ideologicas.

É triste dizer isso, mas a antropologia brasileira se tornou um valhacouto de relativistas culturais e apologetas do multiculturalismo. Arguir que toda cultura é igual e por isso merece ser respeitada, é o mesmo que dizer que os outros povos tem o direito sagrado de infligir dor e sofrimento aos seus semalhantes. Graças a essa tese abominável, inúmeros grupos e entidades representativas passaram a advogar em nome dos adeptos da barbárie e da selvageria. É o caso da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), que justifica o infantícidio praticado por determinadas tribos indígenas brasileiras, que têm o hábito de enterrar vivas as crianças nascidas com alguma deficiencia e os gêmeos, afirmando tratar-se de hábitos culturais dos silvícolas. Como é uma instituição reconhecida, a ABA utiliza o seu prestígio para impedir que a lei Muwaji, que visa punir este crime dantesco, seja aprovada. Revestida pelo manto do cientificismo mais calhorda que existe, a associação faz um lobby feroz no congresso para manter intocável a execrável cultura infanticida.

Cultura, meus caros, é um conceito dinâmico que se adapta e se acumula de tempos em tempos para permanecer vivo. Quando freiamos a evolução cultural impedindo a invenção ou a introdução de novos conceitos, prestamos um desserviço ao progresso. Certos valores, como o bem e o mal, o certo e o errado, são absolutos e não estão sujeitos a avaliações subjetivas. Infelizmente, a turma que anda pela seara do relativismo cultural não quer saber disso. Para essas pessoas, o sofrimento das mulheres submetidas aos horrores da mutilação genital feminina e das crianças portadoras de deficiência que são enterradas vivas no alto do Xingú, não representa absolutamente nada. Para eles, a vida dessas mulheres e crianças não vale um vintêm. A dor e o sofrimento dos pais que fugiram das tribos no intento de preservar a integridade dos seus filhos é mera bobagem; um capricho diante da manutenção de sistemas culturais sofríveis.

Não se engane, caro leitor. A defesa de tais práticas e ideias não é científica ou tampouco razoavel. Na verdade, a relativização de conceitos biologicamente inquestionáveis, como dor, sofrimento, angústia, medo e desespero, dentro de um espectro social, é brutal, cruel e eugênica ( e certamente está entrelaçada com o Nazismo e seu Socialismo de cunho "nacionalista"). Se começarmos a achar que extirpar o clitóris das mulheres e assassinar crianças indígenas em nome de um costume tribal é algo normal e, portanto, aceitável, estaremos marcando o nosso retorno a Taba. Redarguir dizendo que o que "o que nós, brancos, entendemos como sendo vida e humano é diferente da percepção dos índios" é simplesmente rídiculo, pois atenta contra todos os princípios de preservação da vida e, consequentemente, da humanidade. Tese como estas personificam tudo aquilo que há de mais maquiavélico e dantesco em nossa sociedade, pois elas insinuam que as agressões praticadas pelas famílias africanas e pelos indígenas brasileiros são legítimas.

Que mundo formidável é este que estamos construindo! Ao invés de nos apegarmos a valores como a defesa intransitiva da vida, nos deixamos seduzir por teses absurdas que flertam com a selvageria. Em nome dessa moral profunda compartilhada pelos homens ocos de que Auden tanto falava, defende-se o seu direito cultural das tribos africanas à excisão feminina e dos ianomamis ao infanticídio. O que se passa com a nossa cultura? Por que sabemos defender com mais denodo a morte — ainda que a "boa morte" — do que a vida, mesmo que uma vida nem tão boa? Não é violência corrigir o que é ruim. Violência é continuar permitindo que mulheres sejam maltratadas e crianças sejam mortas em nome de culturas instáveis e corrompidas. Sinceramente, agradeço a Deus por compreender Voltaire, e saber que o mal é mal, independente da cultura que o pratica.

Bookmark and Share

Anotações para o capítulo brasileiro da História Universal da Infâmia

Dias atrás eu escrevi um texto narrando o períplo do dissidente cubano Guillermo Fariñas, que estava em greve de fome a mais de cem dias para protestar contra os abusos cometidos pelo governo fascínora dos irmãos Castro, em Cuba.

O texto que eu escrevi, intitulado "O iogue e o dissidente", narrava a história de Guillermo Fariñas e apostava num desfecho trágico. Não que eu desejasse a morte de Farinãs, em absoluto! Mas o meu ceticismo com o governo cubano é tão grande que não cheguei a cogitar, nem por um minuto sequer, que a humanidade e a democracia pudessem vencer essa batalha. Para mim, Fariñas teria o mesmo fim de Orlando Zapata Tamoyo, cuja morte coincidiu com a visista do presidente Lula a ilha presídio.

Felizmente, o mundo é como uma imensa roda gigante e os que hoje estão em cima, amanhã haverão de ficar em baixo. A coragem de Fariñas sensibilizou o governo espanhol e a igreja católica, que pressionaram o governo cubano para que atendesse ao menos uma das reivindicações do militante moribundo. A pressão exercida pelos diplomatas espanhois e pelos sacerdotes católicos deu certo. No fim, a dupla de carniceiros que governa aquela ilha capitulou e decidiu libertar 52 prisioneiros de consciência. Sem dúvida, foi uma vitória digna de aplausos.

Contudo, é preciso ter cautela ao comemorar essa vitória. Ainda há muito a ser feito para libertar o povo daquele pequeno país caribenho. O"muro" que aprisiona a população cubana e os impede de exercer os seus direitos civis, ainda não caiu. Haja vista o número de presos - mais de 100 - cujo único "crime" foi discordar do regime ditatorial dos irmãos Castro. Para impedir que essa situação dantesca se mantenha, o mundo civilizado precisa insistir na mobilização popular e manter o cerco diplomático sobre aquele execrável regime.

Se esmorecermos, os defensores daquele regime genocida tentarão transformar a mais recente vitória da democracia em mais um peça publicitária que apela para a benevolência do governo cubano. Já existem, inclusive, pessoas interessadas em "pegar carona" na publicidade gerada pela libertação dos prisioneiros. Gente que não moveu uma palha para livrar aqueles miseráveis das garras dos fidelistas, de repente resolveu colocar as asinhas de fora e mostrar para o mundo que se não fosse pela sua altiva e destemida ação, aquelas pessoas ainda estariam apodrecendo nas masmorras do regime comunista. Para o nosso imenso pesar, essas pessoas são brasileiras e até outro dia condenavam veementemente a atitude dos dissidentes que "estavam se deixando morrer".

Para compreender melhor a questão, sugiro que leiam o texto do jornalista Augusto Nunes, que foi publicado em seu blog recentemente:

A Era Lula revogou os limites do cinismo, confirmou neste fim de semana a dupla Marco Aurélio Garcia-Celso Amorim com a reiteração da falácia segundo a qual o governo brasileiro ajudou a negociar a libertação de presos políticos cubanos. O conselheiro presidencial para complicações cucarachas tentou costurar a fantasia na sexta-feira: "Nós atuamos na surdina, sem alarde", mentiu. Abalroado pela informação de que Lula se confessara surpreso com o sucesso das gestões feitas pela Igreja Católica, emudeceu por algumas horas. Recuperou a voz ao saber que o governo espanhol interveio em favor dos presos de consciência.

"A Espanha pegou carona com a gente, viu a bola cair nos pés e chutou", mentiu Garcia outra vez. "Nosso estilo é mais discreto", mentiu minutos depois Celso Amorim, o único chanceler da história que, em vez de conversar em voz baixa, tem um chilique por dia. Antes que Lula se atreva a embarcar nessa patifaria, convém reproduzir o que disse o presidente brasileiro em março, quando visitou Cuba para confraternizar com os Irmãos Castro, criticar o dissidente Orlando Zapata por ter morrido no cárcere, trair os presos de consciência trancafiados na ilha e fechar os olhos à greve de fome iniciada pelo psicólogo Guillermo Fariñas. Três momentos da discurseira são suficientes para que se saiba de que lado Lula sempre esteve:
"Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por fazer uma greve de fome. Vocês sabem que sou contra greve de fome porque já fiz greve de fome".

"Eu acho que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto para libertar pessoas em nome dos direitos humanos. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade".

"Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos. Cada país tem o direito de decidir o que é melhor para ele. Não vou dar palpites nos assuntos de outros países, principalmente um país amigo".
Um post de 14 de março confrontou declarações de Lula com trechos do artigo sobre o mesmo tema publicado no jornal espanhol El País por Oscar Arías, presidente da Costa Rica e prêmio Nobel da Paz. Algumas linhas bastam para fotografar-se a colisão frontal entre um estadista e um candidato profissional:
"Não existem presos políticos nas democracias. Em nenhum país verdadeiramente livre alguém vai para a prisão por pensar de modo diferente. Cuba pode fazer todos os esforços retóricos para vender a ideia de que é uma “democracia especial”. Cada preso político nega essa afirmação. Cada preso político é uma prova irrefutável de autoritarismo. Todos foram julgados por um sistema de independência questionável e sofreram punições excessivas sem terem causado danos a qualquer pessoa".
Fingir agora que o Planalto e o Itamaraty se interessaram pela sorte dos prisioneiros cubanos que Lula comparou a bandidos comuns, e atraiçoou acintosamente, é mais que um lance eleitoreiro. É uma jogada sórdida. Fingir agora que o governo estendeu o braço solidário ao bravo Guillermo Fariñas, que só depois de saber da libertação dos encarcerados interrompeu a greve de fome no 135° dia, é mais que manobra oportunista. É coisa de canalha. É, também, outra evidência de que as diretrizes da política externa brasileira andam cada vez mais parecidas com as normas não-escritas do regulamento de um clube dos cafajestes.

(O título é do próprio Augusto Nunes; achei melhor preservá-lo para não descaracterizar o seu trabalho)

Bookmark and Share

10 de julho de 2010

Marina pede punição por vazamento de dados da Receita

Este blogueiro tem uma regra muito simples: assumir publicamente as coisas de que gosto e repudiar veementemente as coisas de que não gosto. É uma especie de princípio de vida que não tem absolutamente nada a ver com alinhamento partidário ou ideologia. É apenas coerência; algo que tem faltado a maior parte dos analistas políticos "isentos".

Por essas e outras, resolvi fazer um clipping com uma notícia do Estadão em que Marina Silva fala sobre o vazamento de dados sigilosos da Receita Federal.

Por Marcelo Auler

A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, defendeu hoje que os responsáveis pelo vazamento de informações da Receita Federal sejam punidos, depois de a responsabilidade deles ficar comprovada em uma investigação que, embora rigorosa, garanta o amplo direito à defesa, “pois não estamos em uma sociedade de justiçamento”, segundo disse. Para Marina, também devem ser punidos “aqueles que lançam mão de informações adquiridas de forma ilegal e fraudulenta para prejudicar quem quer que seja. Esta punição, é claro, é dada pela sociedade, pelo cidadão”, explicou.

Marina insistiu no discurso de que processo eleitoral não pode ser um vale tudo. "Toda e qualquer informação que extrapole o Estado Democrático de Direito não deve ser tolerada, nem pelas instituições, nem pelos candidatos e, principalmente, pela sociedade. Em uma eleição, se tem que provar que se é capaz de respeitar as instituições públicas. Se, para ganhar, não se respeitam as instituições e o jogo democrático, é um sinal de que quando estiver com o poder na mão, fará pior", argumentou.

Prestem atenção a este último parágrafo, pois ele é vital para aqueles que defendem a democracia e o Estado Democrático de Direito. E, por favor, não confundam a exposição dessa fala com preferência ou militância política. Esse blogueiro não tem partido, mas tem lado e quem o conhece sabe muito que lado é esse.

Bookmark and Share

9 de julho de 2010

O programa quem faz são os fregueses

Os petistas estão furiosos com esta charge do Nani que ironiza o fato do PT ser "um partido de programas". Há quem fale em processar o cartunista para impedi-lo de trabalhar. Nada mais natural! Pessoas que apoiam um programa de governo que prega o "controle dos meios de comunicação" costumam demonstrar características típicas dos ditadores.


Sinceramente, não consigo entender porque os petistas ficaram tão irritados com esta charge. Será que é por causa da crítica que o cartunista fez ao fato do PT elaborar diversos programas de governo, ao gosto dos seus "fregueses"? Ou será que é por causa da óbvia analogia com as profissionais do sexo? Bom, a julgar pela natureza dos comentários que o Nani recebeu, acho que está mais para a segunda opção. De repente, os petistas foram acometidos por um surto de moralismo agudo. Estranho, pois foram estes mesmos petistas que regulamentaram o exercício da prostituição em nosso país e deram a profissão um código na Classificação Brasileira de Ocupações. Claro, o governo negou veementemente que o ministério tivesse estimulado e oficializado a ocupação e chegou até a dizer que "o ministério estará realizando convalidações/revisões, para esta e outras famílias ocupacionais representadas no documento CBO, visando à implementação de ajustes que, eventualmente, se fizerem necessários".

Quem lê um troço destes, entende que os petistas ficaram chocados com a indigitada notícia porque são todos pudicos. Se é assim, o que diabos eles estavam querendo dizer quando elaboraram aquela cartilha ensinando as mulheres a se prostituirem? Sim, leitor! Existe uma cartilha editada e publicada pelo governo federal ensinando as mulheres a se prostituir. O documento é bem didático e traz conselhos para as prostitutas aplicarem dinheiro na poupança e recolherem a contribuição ao INSS. Também há dicas como: "seduzir com apelidos carinhosos", "envolver com perfume", "respeitar o silêncio do cliente" e até comportamentos específicos da atividade no garimpo, como "lavar roupas dos garimpeiros". Os petistas ainda abordaram o tema da ética profissional ao explicar que a prostituta deve evitar "envolvimento com colegas de trabalho".

E não para por aí! Para não deixar nenhum assunto de fora, os petistas dividiram o documento em sete áreas de atividade distintas: batalhar programa, minimizar as vulnerabilidades, atender clientes, acompanhar clientes, administrar orçamentos, promover a organização da categoria e realizar ações educativas no campo da sexualidade. E vão longe no assunto... Ignorando as propagandas contra a exploração do turismo sexual, a cartilha fala até em "fazer companhia ao turista" e "acompanhar o cliente em viagens". Sem deixar de mencionar, é claro, a preocupação que os petistas demonstram ao recomendar que as profissionais do sexo não se esqueçam das ferramentas necessárias para fazer o trabalho, entre elas: guarda-roupa de batalha, gel lubrificante à base de água e até mesmo cartões de visita. É mole ou quer mais?

Torço para que essa gente aprendam que hipocrisia não é virtude e conviver bem com as críticas não é um direito, mas sim uma obrigação imposta a todos que usufruem das benesses da democracia. Quando esse dia chegar, eles compreenderão que a função de um chargista é desconstruir discursos arranjados e fazer troça com aquilo que ninguém mais faz por medo ou receio. Humor, meus caros, não pode ter agenda. Não tem de se subordinar a um partido ou a uma ideologia, senão acaba sendo assassinado pela ditadura do politicamente correto. É por isso que as charges que apelam à educação moral e cívica, costumam ser chatas e sem graça . E é por isso também que não existem chargistas de respeito nas ditaduras. Se é para concordar, convenhamos, ninguém precisa desenhar! Basta uma palavrinha: "Sim".

Ps.: Sensato mesmo era Tom Jobim, que dizia que um país onde as prostitutas gozam, os traficantes cheiram e um carro usado vale mais que um carro novo é, sem dúvida, um país de cabeça para baixo.

Bookmark and Share