1 de julho de 2010

Um texto sobre sobre psicologia social, formação da identidade cultural brasileira e etc.

Agora há pouco eu estava lendo um texto do Stephen Kanitz sobre psicologia social, formação da identidade cultural brasileira e etc. Como o assunto é vital para que possamos compreender as relações de poder no Brasil de hoje, me senti tentado a escrever alguma coisa a respeito. Em seu texto, Kanitz afirma que uma parte considerável da responsabilidade pela nossa forma de ser e da igreja católica. Não há dúvida de que o catolicismo desempenhou um papel importantíssimo na formação política, religiosa, social e cultural do brasileiro. Mas daí a dizer que devemos a ela boa parte das mazélas que afligem a nossa sociedade... Chega a ser um despropósito!

O texto de Kanitz manifesta um engano que parece ser extensivo a uma parcela considerável da intelectualidade brasileira. Já virou lugar comum atribuir as falhas dos brasileiros - que vão dos de caráter aos vícios públicos e privados - ao catolicismo. Para eles, é a nossa herança católica que nos denigre e deforma. Claro, isso não passa de mais uma bobagem progreçista que acabou contaminando a todos. Até mesmo um intelectual de peso como Sérgio Buarque de Hollanda embarcou nessa canoa furada e atribuiu o fato de sermos "docéis" e "cordatos" a nossa educação católica apostólica romana. A tese é interessante, mas não pode ser tomada como verdade absoluta. Observem a forma violenta com que os brasileiros, de modo geral, pautam as suas relações sociais e me respondam: vocês realmente acreditam na suposta cordialidade do nosso povo?

Nós, brasileiros, pensamos e agimos de uma forma um tanto passional. Mas não fazemos isso porque somos cordatos e sim porque temos uma imensa dificuldade para entender as formalidade do mundo político. Do meu ponto de vista, agimos assim porque somos incapazes de estabelecer distinções entre o público e o privado, por exemplo. É natural que um povo que não consegue compreender questões fundamentais da vida pública, prefira ser guiado pela emoção em detrimento da razão. O problema é que ao agir assim, somos inseridos num círculo vicioso, onde abdicamos da nossa cidadania para manter uma relação de informalidade com o Estado. Para que trabalhar se podemos ganhar na loteria? Para que exigir que os nossos filhos estudem, se eles podem se tornar jogadores de futebol? Para que ensinar as nossas filhas a serem idependentes, se elas podem resolver todos os seus problemas conseguindo um bom marido? Para que se empenhar em obter aquela promoção, se aquele parente que tem um bom emprego na prefeitura pode conseguir isso num piscar de olhos?

Quando deixamos de conviver com a nossa cidadania (em potencial), perdemos a chance de influenciar na vida política do nosso país e assumimos a posição de servos, submissos a vontade do seu senhor ou imperador. Mas espere aí. O absolutismo acabou! Será mesmo? Na prática, nós trocamos seis por meia dúzia. Substituimos a imagem do monarca que protege a todos pela do presidente que é eleito a cada quatro anos, mas continuamos reverenciando a sua figura como se fossemos dependentes dela. Na maioria dos países do mundo, a transição entre a monarquia e a república veio acompanhada por uma mudança na mentalidade da população que deixou de ser servo para se tornar cidadão. No Brasil, as coisas não foram bem assim... Nos tornamos cidadãos com mentalidades de servos e geramos um híbrido da democracia com o despotismo que acabou propiciando o surgimento de inúmeros escândalos políticos. Os inumeráveis casos de corrupção, acordos políticos, compadrios, fraudes eleitorais, golpes, manipulação da população, miséria e etc., são um exemplo disso.

O PSDB e o PT, por exemplo, surgiram da militância nas agremiações de esquerda e possuem inúmeros políticos de formação marxista leninista. No entanto, agem como verdadeiros donos do Brasil e usufruem do herário como se este fosse uma espécie de direito legalmente instituido. Aqui, como em outros casos, não há nenhuma influência do catolicismo que exorta os seus fiéis a "partilhar o pão". O que temos, meus caros, é a manifestação mais cabal desse misto de democracia com despotismo que nós criamos. No Brasil, mais do que em qualquer outro lugar, o Estado é a grande ficção através da qual todo mundo se esforça para viver às custas de todo mundo. Você não concorda? Então analise atentamente a implantação do método gramsciano de domínio dos aparelhos de Estado e dos meios culturais. Graças a ela, uma casta de intelectuais que praticaram e praticam intencionalmente o duplo pensar, pregando mentiras contra a sua própria consciência e buscando por todos os meios minar a ordem moral da sociedade, se apossou do Estado como se este fosse um espécie de burgo.

O catolicismo sempre pregou o oposto disso! Seus sacerdotes sempre foram contra todos aqueles que não atendiam à voz de comando do "centralismo democrático" e praticavam a dissimulação, a mentira e o fisiologismo político. Se quisermos encontrar a razão de ser do povo brasileiro, não devemos procurar em livros como o Malleus Maleficarum e o Codex Inquisitorum, mas sim no Capital e nos Cadernos do Cárcere. Mas, claro, ninguém está interessado em encontrar o X dessa equação. Ao que parece, a infiltração gramsciana foi tão bem sucedida que até homens de inteligência excepcional, como Kanitz, passaram a usar a mesma linguagem e a fazer a mesma falsa pregação de forma voluntária e inconsciente. Por isso, nada mais justo do que reproduzir uma citação que é oriunda da religião apontada por eles como a causadora de todas as nossas desgraças: "Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem".

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