5 de julho de 2010

O ópio acabou

Confesso que não sei o que mais me irrita nesses dias Copa do Mundo; se o ruído das malditas vuvuzelas ou a falta de decoro dos comentaristas da Globo. O barulho das vuvuzelas é irritante, sem dúvida, mas acho que o relativismo moral dos nossos comentaristas é ainda pior. Foi difícil ver aquele time de "jornalistas" contratados a peso de ouro louvando Luís Fabiano, que meteu o braço na bola duas vezes para fazer seu gol de placa. Mas o que há de ser feito? Nesses dias de Copa do Mundo, acusar a ilegalidade do feito se confunde com uma espécie de mesquinharia, de inapetência para a celebração. Afinal, Luis "Fabuloso" Fabiano é brasileiro e tem aquele jeito moleque de driblar as regras e tirar vantagens dos tolos. Jeito que se não foi criado, foi difundido por um outro jogador de futebol: Gerson, o "Canhotinha de Ouro". Com a filosofia de que o importante é levar vantagem em tudo, ele conseguiu perverter praticamente todos os nossos costumes. Imaginem se o Massie - ou qualquer outro jogador argentino - tivesse metido a mão na bola e saído todo faceiro. Tenho certeza que diriam que isso é um absurdo. Mas, como foi o Luis "Fabuloso" Fabiano...

Como se não bastasse, fomos obrigados a ver os mesmos comentaristas enaltecendo a atitude do jogador uruguaio Suarez de meter a mão na bola para evitar que seu time fosse desclassificado do torneio. Meter a mão na bola já foi sinônimo de trapaça, de roubo. Mas esses tempos ficaram para trás e hoje em dia esse gesto, digamos, inusitado, acabou virando sinônimo de coragem e virtude. Para aquele time de comentaristas, devemos saudar Suarez, cujo gesto maroto salvou a sua seleção da desclassificação e acabou eliminando a última seleção africana do mundial. Some-se a isso, os comentários pra lá de inapropriados que foram dirigidos a Felipe Melo no lance que gerou a sua expulsão. Segundo o time de comentaristas da Globo, a expulsão foi injusta e denota um "rigor excessivo" do arbitro. Será que eles se esqueceram que os jogos de hoje são filmados e que os videoteipes estão acessíveis a qualquer um que possua um televisor? Não creio! Na realidade, o que esses Kants da bola queria é que a população ignorasse o pisão vergonhoso que Felipe Melo deu no jogador holandês. Mas não adiantou. Felipe Melo é quem é e ninguém em sã consciência seria capaz de ignorar isso.

Felizmente esse cinismo acabou! A seleção brasileira capitulou diante da selção holandesa e agora a impresa poderá voltar a tratar das questões verdadeiramente importantes para este país. Thank you dutch people! Pois eu já não suportava mais tamanho descaso com as questões relevantes desse meu Brasil. Claro, ainda vai levar algum tempo para o brasileiro acordar do seu estado de torpor. Você dúvida? Então dê uma olhada nas propagandas triunfalistas que estamos tendo que engolir. Estou certo que se o Brasil tivesse vencido, os publicitários estariam retratando a nossa seleção como os "fortões" do Bairro Peixoto. Como perdeu - e feio - eles resolveram apostar na autocomiseração. É sempre assim... Quando se está por cima, as propagandas são uma uma mistura de Carnaval com Leni Riefenstahl. Quando se está por baixo, sobra aquele tom decoroso dos ressentidos cheios de alma. Será que o Brasil não consegue ser um pouco menos sisudo e um pouco mais gauche? Será que faz mal rir de si mesmo?

Mas nem tudo é desgraça! Ao menos a derrota serviu para por um freio no uso político da Copa. O presidente Lula e sua candidata Dilma Rousseff, que não são bobos nem nada, já haviam anunciado a intenção de ir à Africa do Sul. O objetivo dessa dupla de malandros, óbvio, era se agarrar à taça e garantir algumas boas tomadas para usar na propaganda eleitoral do seu partido. Mas, como diria Drummond: "Havia uma Holanda no meio do caminho". Com a derrota do time de Dunga, a dupla de oportunistas foi obrigada a enfiar a vuvuzela no saco e ir tocar em outras paragens. Que bom! Não deixa de ser uma vitória para o cidadão brasileiro.


A propósito

Algumas pessoas me perguntam se não canso de descer o malho no presidente Lula? Essas pessoas argumentam que a despeito das minhas críticas, a popularidade dele continua crescendo e etc. Segundo eles, não é possível que tantos estejam enganados e tão poucos estejam certos. Ora, é justamente o contrário! Se 170 milhões de pessoas afirmam que uma coisa é boa, elas só podem estar enganadas. Afinal, inteligência não brota em árvores. Assim, quando vejo um pensamento sendo compartilhado por milhões de pessoas, logo presumo que se trata de uma bobagem. Entenderam?

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