8 de julho de 2010

Quando um símbolo representa bem mas do que apenas um símbolo

O Brasil apresentou hoje a logomarca da Copa do Mundo de 2014. No seu simplismo, o país conseguiu reproduzir aquilo que há de pior no cidadão brasileiro: o nacionalismo arrogante de que Paul Johnson tanto falava. A imagem é composta por três mãos, duas verdes e uma amarela, que compõem e agarram, a um só tempo, a cobiçada taça. Ora, todo mundo sabe que a taça fica, temporariamente, com aquele que ganha a competição. Sendo assim, não cabe ao Brasil botar, literalmente, as mãos nela antes da hora. Além disso, devíamos ter atinado para um detalhe óbvio: a pluralidade da competição e o impacto deste símbolo na imagem do país anfitrião. Tenho certeza que dentro de uma ou duas semanas, os principais periódicos esportivos estarão dizendo que em vez de o desenho abrir as portas do país para os visitantes, fecha-se em si mesmo, como um caracol, e anuncia: "A taça é dos brasileiros".

E o que dizer das cores? Como predominam o verde e o amarelo, fica evidente que a idéia era usar as cores pátrias. Então o que faz aquele "2014" em vermelho? Desde quando essa é uma cor nacional? Pode até ser a de um partido, mas do Brasil ela efetivamente não é. Aliás, já que estamos falando sobre este assunto, convêm perguntar: onde foi parar a cor azul, que está estampada em absolutamente todos os símbolos nacionais? Ninguém sabe; ninguém viu. Os mais pragmáticos podem argumentar que o contraste entre o vermelho, o verde e o amarelo, fez bem ao símbolo e que o azul só serviria para deixá-lo sem graça e demodê. Talvez seja, mas isso não é desculpa para deixar de fora uma das cores da nossa bandeira. Se o azul não caiu bem no símbolo, paciência. Devíamos ter criado outro ao invés de aceitar essa excrecência.

Comparem o símbolo com o da Copa do Mundo da África do Sul: em vez da taça, prêmio que só cabe ao vencedor, exalta-se o esporte em si, na figura de um jogador flagrado num lance espetacular; em vez do nacionalismo bocó, a estilização do continente africano, necessariamente multicolorido, plural. O desenho é aberto, receptivo, festivo. O nosso, por outro lado, concentra sinais que evocam uma arrogância desnecessária e caracterizam uma espécie de bravata. Não é condizente com o nosso país. Ou melhor, é sim! Na verdade o desenho escolhido tem a cara do país da bravata. E o pior é que já nasceu velho. Espero que o futebol, ao menos, se renove até 2014.


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