29 de junho de 2010

A Oceania do Caribe

No último dia 23 de junho, os democratas do mundo todo comemoraram uma das suas vitórias mais significativas sobre a tirania: a libertação da menina cubana Sandra Becerra Jova, de 11 anos, que foi retida durante quase meia década em Cuba pelas autoridades comunistas, contra a vontade dos seus pais que reclamavam a sua guarda.

O caso dessa menina é emblemático, pois ele demonstra que o empenho das democrácias é capaz de arrefecer o ímpeto comunista pela privação da liberdade. Este episódio é a prova de que a maneira mais eficaz de ajudar os cubanos a se libertarem do regime ditatorial imposto pelos Castro é a denúncia e a mobilização. Sem estas duas coisas, as entidades de direitos humanos, a imprensa e as autoridades civis e eclesiásticas, jamais tomarão conhecimento dos horrores a que a população cubana é constantemente submetida em nome de uma ideologia arcaica e sanguinária.

Sandrita, como ficou conhecida em nosso País, é filha dos engenheiros cubanos Vicente Becerra e Zaida Jova. Seus pais vieram ao Brasil para concluir a pós-graduação na Universidade de Campinas (Unicamp). Após experimentar liberdades básicas como o direito de ir e vir, por exemplo, o casal decidiu se estabelecer definitivamente no Brasil. Mas, para o seu pesar, a ditadura castrista não tolera dissidentes e tampouco é sensível as suas necessidades. Bastou que os pais de Sandra iniciassem os trâmites para que ela pudesse se unir a eles no Brasil, que o martírio da família começou.

O casal foi a Cuba, uma, duas, três vezes... Na esperança de trazer Sandra, consigo para o Brasil. Mas, infelizmente, foi tudo em vão. As autoridades cubanas insistiam em negar aqueles pais o direito natural de viverem com seus filhos e poder educá-los de acordo com os seus próprios princípios. Foi preciso que um jurista cubano exilado, Dr. Claudio Benedí, denunciasse o caso ante os chanceleres das Américas, durante a Assembléia Geral da OEA, e também diante da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, para que o regime castrista se pronuciasse a respeito.

Como de costume, os comunistas alegaram que a denúncia do Dr. Benedí era falsa e serviu apenas para provocar um "escândalo desnecessário". As declarações soaram contraditórias, pois poucos dias depois o governo cubano comunicou ao Itamaraty que a menina seria liberada. É sempre assim! Primeiro lançam uma bravata com o intuito de demover o mundo democrático da sua empreitada. Diante da negativa das nações civilizadas, decidem capitular. É parte de um estratagema previamente enjandrado para diminuir o efeito da derrota sobre a população remanescente.

No fundo, o que os comunistas temiam é que este episódio criasse um "mau" precedente em relação a outros profissionais cubanos que estudam em nosso país. Um temor absolutamente infundado, pois tão logo o PT assumiu o poder no Brasil, as relações diplomáticas com Cuba se acentuaram. Quem não se lembra do caso dos dois boxeadores cubanos que fugiram da concentração durante o Pan e pediram asilo em nosso país? Ambos tiveram os seus pedidos veementemente negados pela diplomácia do governo Lula e foram obrigados a voltar a Cuba. Mais tarde, um deles conseguiu fugir e obteve refúgio na Alemanha. Quanto ao outro, ninguém mais teve notícias dele.

Sob o governo FHC, a história da menina Sandra teve um final feliz. Sob o governo Lula, a história dos boxeadores cubanos teve um final tremendamente infeliz. Lula, que se recusa a tratar o regime cubano como uma ditadura, argumenta que não podemos dar palpites na forma como os nossos vizinhos dirigem os seus países. Ora, se não podemos cometer ingerências o que estávamos fazendo em Honduras? Aquilo era um caso isolado? É óbvio que não! Está claro que no Brasil os amigos dos petistas têm direito a tudo, exceto a lei. Já os inimigos dos petistas... Estes não têm direito a nada, nem mesmo a lei!


Eleições em Cuba

No dia 25 de abril deste mesmo ano, o governo cubano realizou eleições para eleger os delegados das 169 Assembleias Municipais do Poder Popular. Estou certo que muitas pessoas desinformadas irão mencionar este fato como uma evidência de que Cuba NÃO é uma ditadura. Como se as eleições, por si só, fossem suficientes para assegurar o cumprimento de todas as garantias democráticas.

Tão logo o governo cubano convocou o pleito, os jornalistas órfãos do socialismo começaram a desfiar o seu rosário de mentiras. O site Cuba em Debate, por exemplo, argumentou que a imprensa mundial tem necessidade de omitir as informações referentes ao pleito para manter a falsa ideia de que Cuba é uma ditadura. O jornalista Juan Marrero chegou a dizer que isso "é perfeitamente compreensível, pois um dos componentes principais da guerra mediática contra a revolução cubana tem sido negar, escamotear ou silenciar a realização de eleições democráticas: as parciais, a cada dois anos e meio, para eleger delegados do conselho, e as gerais, a cada cinco, para eleger os deputados nacionais e integrantes das assembleias provinciais".

O que ele não disse é que a população foi tocada até as "urnas" como gado pelos famigerados CDRs (Comitês de Defesa da Revolução). Você já ouviu falar nesses Comitês? Os escritores Corinne Cumerlato e Dennis Rousseau elaboraram um verbete, bastante elucidativo, que pode ajudá-lo a compreender o que eles são:
CDR - Comité de Defensa a la Revolución (Comitê de Defesa da Revolução Cubana). A partir dos 14 anos de idade, todos os cubanos são obrigados a aderir ao CDR. "Cerca de 8 milhões de cubanos são membros do comitê de defesa da revolução de seu quarteirão, dirigido por um 'presidente, um responsável pela vigilância e um responsável ideológico'. Além de seu papel de vigilância 'dos inimigos da revolução e dos anti-sociais', os cerca de 120 mil comitês que controlam o país 'constituem uma grande força de impulsão para mobilizar o bairro por ocasião das reuniões e desfiles para defesa da revolução', afirmam os textos oficiais" (CUMERLATO, Corinne; ROUSSEAU, Denis. A Ilha do doutor Castro – a transição confiscada, pg. 55. Editora Peixoto Neto, São Paulo, 2001 - Tradução de Paulo Neves).
Como podem ver, enquanto figuras representativas da esquerda brasileira, como o cardeal Arns, Frei Betto e Luis Inácio Lula da Silva vêem na Cuba comunista "sinais" de um paraíso celestial, estes comitês evidênciam que aquela ilha é uma ante-sala do inferno. Aquilo que os membros proeminentes da esquerda apontam como um sinal de civilidade e democrácia é na verdade uma evdência incontestável de que os cubanos vivem um pesadelo de proporções orwellianas. Um dia, a imprensa comunista noticia que 9 milhões de pessoas saíram as ruas para protestar contra os desmandos dos países imperialistas causadores da miséria cubana e no outro, as mesmas 9 milhões de pessoas precisam ser coagidas pelos CDR a dar suas assinaturas em um gesto de apoio ao regime comunista. Isso não lhes parece estranho?

George Orwell - que lançou o seu livro "1984" dez anos antes do início da revolução cubana - ficaria supreso ao ver no sistema comunista tantas analogias com os métodos de controle psicossocial que ele descreveu em sua novela-ficção. "Se todas as pessoas aceitam a mentira que o Partido impõe, se todos os documentos apresentam a mesma versão, então a mentira passa à História e se converte em verdade", escrevia Orwell, definindo essa situação artificial de controle mental como um literal "pensamento duplo". Na Oceania de Orwell, até o ato de deixar transparecer no rosto expressões consideradas "impróprias", já consistia uma infração passível de punição: era o chamado "rosto crime". Na Cuba de Fidel, aí daquele que parecer encimesmo e taciturno enquanto grita: "Viva la Revolucion"!

A eficácia do aparato comunista no controle psicossocial da população é tão grande que transmite a falsa impressão de que a realidade totalitária é uma situação monoliticamente sólida, sem a qualquer possibilidade de ser enfrentada ou mudada. Daí o grau altíssimo de aprovação da revolução entre os cubanos com menos de 60 anos. Claro, a coisa é um pouco diferente entre aqueles que possuem mais de 60 anos. Estes já estão escolados em ditaduras, pois viveram sob o regime de Baptista e sabem que estão à mercê de um poder que é quase onipresente. Para sobreviver, tanto um quanto o outro são obrigados a participar das manifestações e a assinar documentos que o "Big Brother" determina.

A vantagem do povo cubano sobre o povo da Oceania orwelliana, é que o "Big Brother" caribenho, ao contrário do seu par na novela, não conseguiu "converter a mentira em verdade". Todos sentem, inclusive os mais altos hierarcas, que esse edifício de mentiras, apesar das aparências de solidez, na realidade está cada vez mais frágil e vulnerável. Por isso é importante que os cidadãos brasileiros se manifestem ante os candidatos presidenciais, solicitando-lhes um compromisso público para que o futuro governo atue com firmeza no campo diplomático e humanitário, resguardando a vida dos cidadãos cubanos.

A denúncia é a forma mais efetivas de ajudar os cubanos, pois à exemplo do aconteceu no caso da menina Sandra Becerra Jova, ela pode sensibilizar os organismos internacional e fazer com que eles se pronunciem a respeito dessa situação de injustiça flagrante. As manobras orwellianas do regime cubano para aprovar a reforma constitucional que estabelece como "intocável" o regime comunista, devem ser denunciadas no mundo inteiro e transformadas em um gigantesco "caso Sandra", para que comova a opinião pública mundial. Colaborar para que isto se dê, é algo que está ao alcance de cada brasileiro e pode ser feito já nas próximas eleições.

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