4 de junho de 2010

A nau dos insensatos

No início dessa semana, as Forças de Defesa de Israel divulgaram um comunicado informando que os soldados israelenses interceptaram seis barcos que tinham a intenção de furar o bloqueio naval imposto à Faixa de Gaza. Segundo o informe, a Marinha interceptou as embarcações para conduzi-las até o porto da cidade israelense de Ashdod, onde a ajuda humanitária poderia ser desembarcada logo depois das devidas inspeções.

O noticiário sobre a intervenção das forças de segurança de Israel na flotilha que rumava para Gaza foi verdadeiramente estarrecedor. Com exceção do Diário do Comércio, nenhum outro veículo de comunicação noticiou os fatos com precisão. Vale à pena relembrar as palavras do periódico editado pela Associação Comercial de São Paulo antes de prosseguir:

O choque entre a marinha israelense e a Flotilha da Liberdade levantou ondas de protesto e indignação no mundo e imediato tsunami condenatório sobre Israel. Mas a maré está baixando e emergem algumas verdades que naufragaram sob o peso do coro dos pacifistas - na verdade, piratas da paz.

A primeira verdade: rejeitados apelos e propostas para evitar o confronto, a Flotilha da Liberdade decidida a furar o bloqueio militar, comandos israelenses começaram a descer por corda de um helicóptero no navio turco Mavi Marmara. Um a um, os soldados foram recebidos pelos militantes dos direitos humanos a golpes de barra de ferro, facadas e pauladas. Um foi jogado ao mar. De outro retiraram o fuzil. Um linchamento, contido a tiros.

A segunda verdade: Israel se deixou cair na armadilha. A Flotilha da Liberdade, organizada pelo movimento Gaza Livre e a ONG turca Insani Yardim Vakfi, dispunha de um canal aberto pelos israelenses para levar sua ajuda humanitária até Gaza. Bastava ancorar em Ashdod, passar pela alfândega e seguir pela estrada, tão curta que os mísseis do Hamas a atravessam inteira. Mas não: Bülent Yildrim, o humanitário-pacifista-chefe turco, é amigão de Ismail Haniya, o chefão do Hamas. Aos dois conviriam alguns mártires. E agora eles os exibem ao mundo.

A terceira verdade. Por que abordar a Flotilha da Liberdade? Esta era uma pergunta que se fazia ontem em Israel, país de tantos estrategistas de guerra quantos de técnicos de futebol no Brasil. A marinha poderia simplesmente bloquear o caminho. Ante alguma insistência, elevar o tom: um disparo de advertência. Teimosia? Acertar as máquinas dos navios e deixá-los singrar a esmo nas turbulentas águas políticas do Oriente Médio. Yasser Arafat também quis navegar contra Israel. Em 1988, batizou um navio de O Retorno e o lotou de refugiados palestinos. O serviço secreto israelense o esperou ancorar em Chipre, escala também da Flotilha da Liberdade, e o sabotou ao ponto de só navegar a remo. Ironia do destino: Arafat partiu para o exílio num navio chamado Atlântida, o continente e sua Palestina perdidos. Uma opção final seria deixar um só dos seis navios ir até Gaza, sob escolta, sem considerar um precedente aberto.

A quarta verdade. Foi um massacre: durante o dia inteiro, o tsunami contra Israel rendeu bandeiras queimadas, protestos diante de embaixadas, passeatas, declarações oficiais de protesto e deixou até o nosso chanceler, Celso Amorim, “chocado”, ele que não se abala com os mortos de Teerã e nem de Cuba. Os israelenses sempre perdem a guerra de Hasbará, [termo] hebraico para “esclarecimento”. Quando pensam em esclarecer, o barulho da maioria automática do mundo árabe os sufoca. Em qualquer situação, serão culpados.

Uma Flotilha da Liberdade jamais tentará aportar no Irã, na Coréia do Norte ou em Havana. Há pouco tempo, os turcos ameaçavam romper com Israel se não recebessem armas israelenses que compraram.

São as contradições israelenses. Uma é armar o seu próprio inimigo. Outra: ontem à noite, membros do Conselho de Segurança da ONU pediram que Israel acabe com o bloqueio a Gaza - e foi o que Israel fez, exatamente, em 2005, para então virar o alvo de uma chuva constante de mísseis contra sua população civil, e daí o bloqueio e a Flotilha da Liberdade.


Se é verdade que "os sionistas controlam a mídia", como se explica que esta seja tão fanaticamente anti-Israel? Nenhum outro país é tão vigiado, tão vilipendiado, tão acusado. Se os sionistas realmente controlam os meios de comunicação, estão fazendo um péssimo serviço.

Em 1998 estourou uma guerra no Congo que matou mais de cinco milhões de pessoas em poucos anos. É a maior guerra na história moderna da África e um dos conflitos mais mortíferos desde a Segunda Guerra Mundial. Envolveu directamente oito países africanos e cerca de 25 grupos armados. 3,8 milhões de pessoas morreram, a maioria de inanição e doenças. Vários outros milhões foram deslocados das suas casas ou procuraram asilo em países vizinhos. No inferno africano, 1000 pessoas morrem diariamente vitimadas pela subnutrição e por doenças facilmente evitáveis. Apesar disso, ninguém da a mínima. Nenhuma ONG ou governo pretende levar medicamentos, água ou comida para esses pobres coitados. Não há nenhuma "frota da paz" nessa direção.

Em 1999 o ex-presidente russo Vladimir Putin, matou duzentos mil muçulmanos chechenos. num conflito que ficou conhecido como a Segunda Guerra na Chechenia. Apesar de ser tratada por muitos como um conflito interno da Rússia, a guerra atraiu um grande número de combatentes jihadistas (mujahidins) estrangeiros, incluindo redes terroristas apoiados pelo Afeganistão. Um fato como esse jamais poderia ter passado incólume, mas passou. Houve uma única jornalista que protestou contra as violações aos direitos humanos cometidas pelos dois lados do conflito e advinhem... Terminou "suicidada" com dois tiros.

Em 1970, os jordanianos mataram em um único mês dez vezes mais palestinos do que os israelenses em 40 anos. A Jordânia, comandada pelo rei Hussein, tinha um grande número de palestinos em seu território e via, a cada dia, o crescimento de um Estado palestino dentro do Estado jordaniano. Para evitar que isso acontecesse, o rei Hussein começou a "minar" a influência dos palestinos na região o que fez com que os palestinos começassem a questionar a sua líderança. Em setembro daquele mesmo ano, as forças militares de Hussein começaram a eliminar a presença armada da guerrilha palestina. A partir daí aconteceram uma série de conflitos entre o exército jordaniano e os palestino, deixando um saldo de mais de 10 mil mortos.

Mesmo hoje, morrem mais muçulmanos nos conflitos sunitas versus xiitas do que no conflito com Israel. Mas quando são árabes matando árabes, ninguém se importa. O que nos remete a seguinte pergunta: Por que alguns mortos valem mais do que outros?

Eu não sei! Mas talvez o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, co-patrocinador do acordo iraniano, saiba. Recentemente ele veio a público dizer o que pensa do ataque israelense à "frota humanitária": trata-se, segundo ele, de "terrorismo de estado". Não tenho a pretensão de explicar porquê a indignação do prêmier turco é tão seletiva, mas talvez a história recente do seu país possa trazer alguma luz a essa questão. Em 1915, o ministro do interior da Turquia, Taalat Paxá, ordenou a morte de aproximadamente um milhão e meio de armênios. O governo turco não apenas nega impudentemente essa tragédia como ainda tenta mudar o curso da história para apagar a memória do genocídio.

Na década de 80, a sinagoga Neve Shalom foi invadida por dois terroristas palestinos que jogaram granadas e descarregaram as suas metralhadoras sobre os judeus que estavam dentro do prédio, deixando 23 mortos e um grande número de feridos. O governo turco não manifestou uma única nota de pesar. Evidentemente, essa omissão custou caro aos judeus de Istambul, que poucos anos depois tiveram a sua sinagoga destruida em um atentado com um carro bomba que vitimou mais de 200 pessoas. E mais uma vez, o governo local permaneceu calado. Aqui entre nós, não me parece um país sensível as perdas humanas e afeito ao pacifismo.

Além disso, existem indícios que a IHH, ONG responsável pela flotilha humanitária que foi enviada à Faixa de Gaza, tem laços estreitos com o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), atualmente no poder na Turquia. Há evidências de que o AKP está em busca de duas coisas: transformar a Turquia num país fundamentalista islâmico e recuperar a antiga hegemonia sobre o Oriente Médio, perdida com a dissolução do Império Otomano e com as reformas introduzidas por Mustafa Kemal Atatürk em 1923. Para isto é preciso romper com Israel e demonstrar aos demais países islâmicos sua profunda submissão às palavras e aos atos do Profeta. O estudo do Stratfor.com (A Potential Turkish-Israeli Crisis and Its International Implications), evidencia isso. Nele, Erdogan aparece como um homem que viu na iniciativa da IHH uma oportunidade de colocar Israel numa situação difícil.

De fato, o governo turco está usando o fato dos barcos terem sido interceptados em águas internacionais como justificativa para a sua indignação. Ora, consternados com as perdas de vidas humanas todos estamos, mas não podemos ignorar algumas verdades essenciais. A primeira delas é que o governo israelense caiu em uma armadilha tão velha quanto o próprio tempo. Qualquer que fosse a decisão dos militares israelenses envolvidos, a Turquia e o Hamas seriam beneficiados. Eu explico: se Israel tivesse permitido que a flotilha completasse a sua missão, os turcos estariam cantando vitória por terem sido o primeiro país a transpor o bloqueio imposto pelos israelenses. Se, por outro lado, Israel invadisse os navios como de fato invadiu, a Turquia poderia iniciar uma ofensiva diplomática contra o país e quiçá até romper os acordos firmados entre eles.

Além disso, não podemos ignorar uma segunda verdade, tão importante quanto a primeira: aqueles navios transportavam mais insultos do que qualquer outra coisa. Desde o princípio, estava claro que o intuito da operação coordenada pela IHH, não era humanitário. O que os comandados de Bülent Yildirim realmente queriam, era minar a credibilidade de Israel junto a opinião pública. Huwaida Arraf, um dos organizadores da flotilha, afirmou com antecedência ao evento: "Os israelenses vão ter que usar a força para nos parar". Yildirim, disse pouco antes do embarque: "Vamos resistir, e a resistência irá vencer". Estranhamente, nem Arraf e nem Yildirim embarcaram.

Sugiro aos leitores deste blog que leiam, com a máxima atenção, o estudo feito por Evan F. Kohlman, do Danish Institute for International Studies de 2006 (The Role of Islamic Charities in International Terrorist Recruitment and Financing). Nele, vocês verão que a IHH vinha sendo investigada desde 1997, quando fontes relataram que seus líderes estavam comprando armas de outros grupos terroristas islâmicos. Se existem evidência que ligam a IHH a atividades terroristas, convem perguntar: quem é, afinal, esse homem e quais são os seus interesses? Uidirim é conhecido por comparar a a situação dos palestinos em Gaza à dos judeus nos campos de concentração nazistas e manter relações como Ismail Haniya, chefe do Hamas.

Nos anos 90, o magistrado francês Jean-Louis Bruguiere revelou que Yildirim, conspirou diretamente para "recrutar soldados veteranos para a próxima guerra santa (jihad). Segundo Bruguire, alguns destes homens foram enviados para zonas de guerra para adquirir experiência em combate através da IHH. O magistrado diz ainda que a ONG presidida por Yildirim é usada para oferecer cobertura (cover up) para grupos terroristas, conseguindo documentos falsos, traficando armas e elaborando formas de infiltração de mujaheddins para combater. É evidente, portanto, que de pacificista esse sujeito não tem nada!

Para se ter uma ideia do caratér desse homem, horas depois da tragédia que tirou as vidas de aproximadamente uma dúzia de pessoas, ele disse que estava contente com o resultado da operação. Também pudera! Se o intuito fosse levar mantimentos para os moradores da Faixa de Gaza, seus ativistas teriam tentado furar o bloqueio pelo Egito e, provavelmente, teriam tido exito. Preferiram seguir por via marítima, porque sabiam que mais cedo ou mais tarde seriam abordados pelos militares israelenses. Com um pouco de sorte, entrariam em conflito com os soldados armados e contribuiriam sobejamente para a causa palestina.

E deu certo! Os israelenses sairam com a fama de truculentos; as relações do seu país com a Turquia, seu aliado de maioria islâmica, estão profundamente abaladas; a propaganda anti-Israel ganhou o mundo; o Hamas saiu moralmente fortalecido; os esforços dos EUA para condenar o Irã no Conselho de Segurança da ONU estão seriamente prejudicados e os patrocinadores daquele acordo vigarista com os iranianos, Brasil e Turquia, aproveitaram o momento para caracterizar Israel como o verdadeiro inimigo da paz no Oriente Médio. Podemos dizer que Israel ditou a coreografia e suas forças de segurança a executaram com o rigor do autoflagelo.

Nem mesmo o fato dos militares israelenses terem sido recebidos com violência quando desembarcaram no Navi Marmara, atenuou o impacto negativo da notícia. Saliente-se, para que não reste dúvida, que os militares isralenses reagiram a uma tentativa de linchamento organizada pelos tripulantes do navio. Os videos feitos pela IHH e pela IDF são evidências inequivocas disso:




O vídeo deixa claro que os "pacifistas" atacaram os soldados de Israel, depois de esgotadas as negociações. Fala-se do filme, mostra-se o filme, fica confirmada a agressão... Mas o texto de condenação a Israel, sem matizes, segue adiante a despeito dos sete soldados israelenses feridos — dois deles por tiros.

Nenhum jornalista teve a
a honestidade intelectual de reconhecer que se tratava de uma ação orquestrada pelos simpatizantes do Hamas com o intuito de desestabilizar Israel. Ingenuidade? Não creio. Era de conhecimento público que a frota não se desviaria da rota o que, por si só, constituía uma provocação ao governo israelense. Além disso, não podemos nos esquecer que foi o Hamas que, tão logo Israel deixou Gaza, saiu em perseguição aos membros do Fatah: alguns morreram; outros levaram tiros nos joelhos, outros tantos tiveram as pernas quebradas… E o mundo que agora grita, fez um silêncio sepulcral.

O bloqueio é detestável? Claro que é! Mas os palestinos têm de afundar o seu navio do terror, em vez de receber navios de provocação barata. Israel matou mais de 100 dos seus quando ficou claro que suas atitudes atentavam contra a existência do Estado (ver o episódio envolvendo o navio Altalena); por que não atuaria contra os comandados do Sr. Bülent Yildirim? É óbvio que não serão seis naus lotadas de insensatos que porão fim ao bloqueio de Gaza. E chega a ser estúpido que a ONU, o Brasil ou a Grã-Bretanha cobrem o fim do bloqueio justo agora, quando uma pantomima terceirizada do Hamas tenta um ato de pura propaganda. Além disso, como cobrar de Israel a suspensão do bloqueio quando o Egito aplica, em terra, a mesma política — e para conter o mesmo grupo: o Hamas.

Não sejamos cínicos e hipócritas! O bloqueio não existe porque os israelenses são perversos, ele existe para conter a chegada de armas para o Hamas. Já chegou a ser suspenso, diga-se, e Israel tomou em troca uma chuva de mísseis, DIANTE DO SILÊNCIO CÚMPLICE DO MUNDO. Suponho que para os aviltados membros do Conselho de Segurança da ONU, pode-se matar judeus à vontade. O que não pode, em circunstância alguma, é matar os palestinos que fazem uma opção preferêncial pela guerra. Talvez fosse o caso de levar aos burocratas encastelados em Nova York as palavras do eminente filósofo britânico, Sir Karl Popper: "Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos". Quem sabe assim eles não compreendem que por querer a paz, os israelenses se prepararam para a guerra e por querer a guerra, os palestinos jamais se preparam para a paz.

Condenação

O Conselho de Direitos Humanos da ONU aprovou uma resolução que condena Israel pelo ataque à suposta frota humanitária que queria furar o bloqueio a Gaza. E criou uma "comissão independente" para investigar o episódio. Por que investigar se a condenação já foi proferida? Três países votaram contra o texto: EUA, Itália e Holanda. Nove optaram pela abstenção: Bélgica, Burkina Fasso, Coréia do Sul, Eslováquia, França, Reino Unido, Hungria, Japão e Ucrânia. E 32 optaram pela condenação, incluindo o Brasil, do peacemaker Lula da Silva.

Esse é o mesmo conselho que não conseguiu, acreditem, condenar as ações de Omar Al Bashir, que já matou quase 400 mil pessoas no Sudão. Na matemática macabra dos apoiadores do terrorismo, quatrocentos mil cadáveres em Darfur não valem 10 apoiadores da causa palestina. Vale a pena listar os países que emitiram votos condenam Israel naquele valhacouto de ditaduras que é o Conselho de Segurança da Nações Unidas: Angola, Bolívia, China, Cuba, Egito, Gabão, Nicarágua, Arábia Saudita, Senegal, Zâmbia… Muitos desses devem pensar: "Só nós temos o direito de matar os nossos cidadãos".

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