6 de maio de 2010

A herança maldita

Há coisa de uma semana eu comparei o presidente Lula ao personagem fictício Chance Gardener (Muito Além do Jardim), devido ao seu apreço pelas metáforas futebolísticas. O texto com a comparação pode ser lido aqui.

Hoje, uma imagem inusitada fez com que eu me lembrasse daquele texto. Como podem ver, o carro oficial que transporta Lula em Brasília ganhou um adorno, no mínimo, estranho. O veículo traz no vidro, ao lado do adesivo do brasão da república, o escudo do Corinthias.

A novidade foi captada pelas lentes do repórter Sérgio Lima e reforça a ideia já disseminada de que Lula vê - e interpreta - o mundo a partir do futebol. Ao acomodar os dois símbolos, assim, lado a lado, o presidente dá a entender que, em seu íntimo, equipara a camisa do time à faixa presidencial e que everga uma e outra com o mesmo sentimento de orgulho.

No último sábado, entre uma festa e outra do 1° de Maio sindical-eleitoral, Lula arranjou um espaço na agenda para visitar o Parque São Jorge. Acompanhado da mulher, Marisa, foi emprestar sua solidariedade aos jogadores do Timão que se preparavam para o embate decisivo contra o Flamengo. Até aí tudo bem! Mas convenhamos, teria sido muito mais decente se o presidente tivésse sido tão prestimoso com as vítimas das chuvas no Rio de Janeiro, mas até agora... Nada.

Ontem, Lula brincou com um assessor dizendo que, no duelo dos gordos, Ronaldo prevaleceria sobre Adriano. Não estava de todo equivocado, pois aboletado diante da sua TV, viu Ronaldo fazer o primeiro gol e participar ativamente do segundo. Adriano, como previra, não marcou. O diabo é que Wagner Love, aquele das trancinhas, substituiu o gordo flamenguista no papel de algoz do Corinthias.

Embora derrotado (2 x 1), o Flamengo conseguiu se classificar para as quartas de final da Libertadores arrancando gritos da sua torcida de "é campeão". Lula deve ter ido ao encontro dos cobertores ruminando a derrotada e maldizendo o time carioca. É provavel que nem tenha olhado para o escudo estampado no vidro do carro, pois devagar, devagarinho, a peça acabou ganhando contornos de um adereço incômodo.

Não fique tão triste, presidente! Se Dilma vencer as eleições, é provavel que estenda a tal da continuidade à janela do automovel presidencial numa derradeira deferência ao ex-chefe e cabo eleitoral. Por outro lado, se Serra vencer, o símbolo do Coringão receberá um status, digamos... Não tão positivo.

Eu, particularmente, acho ótimo que Lula tenha levado ao automóvel da presidencia o símbolo do Coringão. Graças a esse nobre gesto, Serra terá a oportunidade de dizer que recebeu pelo menos uma herança maldita do presidente petista.

Graças a Deus! Já não se pode mais dizer que, se eleito, o tucano manterá tudo intacto.
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Um comentário:

  1. Belo texto, meu amigo.
    Gostei do humor presente no texto, e é claro da ironia já marcante.

    F.M.

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