3 de maio de 2010

Stálin e os passáros

Entre as incontáveis histórias que foram contadas no tempo do comunismo, existe uma que oferece uma ressonância inesperada. Ela mostra um Stálin velho que, diante do momento de fazer a escolha entre seus sucessores, chama Bulganin e Malenkov para perto de si.

Ele lhes mostra dois pássaros vivos numa gaiola e pede a eles para agarrá-los. Bulganin, o primeiro, pega um pássaro. Mas ele tem tal medo, está tão preocupado, tão tenso, que fecha a mão com força e mata o pássaro.

Stálin se mostra descontente. Pode-se ver pela sua expressão.

Malenkov, então, pega o segundo pássaro e, não querendo cometer o erro de Bulganin, deixa a mão mole, os dedos abertos, de tal maneira que o pássaro voa e escapa.

Stálin, ainda mais e mais descontente, faz com que tragam um terceiro pássaro e diz aos dois:

- Olhem bem.

Ele pega delicadamente o pássaro pelas patas e arranca, uma a uma, todas as suas plumas. Quando o pássaro está todo depenado e trêmulo, acomodando-se de qualquer maneira na cavidade de sua mão, Stálin diz aos dois:

- Estão vendo? E, além disso, como se não bastasse, ele experimenta um sentimento de gratidão por causa do calor humano que se desprende da minha mão.

(Do livro Contos filosóficos do mundo inteiro, de Jean-Claude Carrière).
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