28 de abril de 2010

Lula, "the gardener"

Qualquer cidadão brasileiro, eleitor do PT ou não, conhece o apreço do nosso presidente pelas metáforas futebolísticas. Não acho que seja exagero afirmar que Lula vê o mundo a partir do futebol, pois suas metáforas quase sempre são inspiradas por este esporte. Esse hábito, pouco ou nada lisonjeiro, acabou fazendo com que eu me lembrasse do filme Muito Além do Jardim (inspirado no romance O Vidiota, de Jerzy Kosinski).

Chance (Peter Sellers) é um homem ingênuo que passa toda a sua vida cuidando de um jardim e assistindo televisão, seu único contato com o mundo exterior. Ele nunca entrou em um carro, não sabe ler ou escrever, não tem carteira de identidade, resumindo: ele não existe oficialmente. Quando seu patrão morre, ele é obrigado a deixar a casa em que sempre viveu e, acidentalmente, é atropelado pelo automóvel de Benjamin Rand (Melvyn Douglas), um grande magnata que se torna seu amigo e chega a apresentá-lo ao Presidente (Jack Warden). Quando Chance volta a si, as pessoas lhe perguntam qual é o seu nome e então ele responde: "Chance, o jardineiro". Atônitos com o que acabara de acontecer, eles confundem a palavra "gardener" com "gardner" e passam a achar que Chance é na verdade um homem muito sábio.

Daí em diante, ele é levado para a casa de Benjamin Rand e apresentado ao círculo de amigos do seu anfitrião. Em pouco tempo, Eve, a esposa de Rand, se apaixona pelo suposto Chance Gardner sem saber quem ele realmente é. O jardineiro com pinta de filósofo encanta a todos e chega, inclusive, a ser cotado para o cargo de presidente, pois seus novos amigos estão convencidos de que é preciso ter alguém com o "perfil" dele na política americana.

E qual é o segredo de Chance? Assim como Lula, o nosso presidente, Chance recorre as metaforas até mesmo para explicar o óbvio. Ele usa a sua especialidade, a jardinagem, para explicar tudo que não entende e sempre deixa a conclusão das suas sentenças a cargo dos seus ouvintes. Se alguém lhe pergunta como enfrentar o perigo soviético, ele responde: "Num jardim, as ervas daninhas tem que ser contidas antes que tomem conta de todo o canteiro". E os presentes, com aquele olhar basbaque, concluem: "Ohhh, isso quer dizer que..."

E as semalhanças não param por aí! Quando uma jornalista pergunta a Chance "que jornais você lê?", ele responde dizendo "eu não leio jornais". O carisma de Chance é tão grande que, ao invés de demonstrar espanto com a resposta, a repórter anuncia para a câmera: "Muitos homens não leêm jornal algum, mas apenas um teve coragem de admitir".

Óbviamente, Lula não é idiota como Chance, "the gardener". Ele é capaz, por exemplo, de entender a política em toda sua complexidade. Na realidade, o presidente e o jardineiro só se parecem nos métodos que utilizam para seduzir a sua audiência. Lula está sempre reduzindo tudo a uma simples partida de futebol: da ditadura iraniana ao confronto eleitoral de 2010, tudo se explica pelo futebol.

Na ficção, Chance quebrou a cara (acabou sendo descoberto porque a sua mesmisse o traiu), mas na realidade brasileira... Chance se tornou presidente e continuou a ser aquele sujeito admirado que sempre - ou quase sempre - foi.

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