9 de abril de 2010

Quando os inimigos de ontem se tornam os aliados de hoje

Em sua passagem pelo estado de Minas Gerais, a ex-ministra chefe da Casa Civil e candidata petista à presidência da república, Dilma Rousseff, foi fotografada colocando flores sobre o túmulo de Tancredo Neves. Ver a candidata do governo com aquele ar compungido, homenageando aquele que outrora foi um dos maiores inimigos do seu partido, foi no mínimo inusitado. Afinal, o PT foi o partido que expulsou os parlamentares que votaram em Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral de 1985 e se recusou a assinar a Constituição Cidadã, em 1988. Atrevo-me a dizer que se não fosse pelo extinto PDS, Maluf, o candidato da Ditadura, teria se tornado presidente da república.

Quase 25 anos após a morte de Tancredo, Dilma vai até São João Del Rey e deposita uma coroa de flores sobre o seu túmulo acreditando que isso será suficiente para reescrever a história política brasileira. Há quem tenha se deixado levar por esse gesto e afirme, peremptoriamente, que o PT mudou e passou a ser mais consciencioso com a memória do ex-presidente mineiro, mas eu não acredito nisso e vou lhes dizer o porquê: recentemente o congresso realizou uma sessão solene, para homenagear Tancredo e Dilma não compareceu. Poderia ter ido, até mesmo em caráter protocolar, mas preferiu se abster.

De fato, a característica que mais me impressiona no governo petista é a capacidade de fazer promessas capazes de seduzir o eleitor brasileiro e manter a pose de conciliador e benevolente. entre aliados e adversários Todos os dias os jornais, rádios, sites e especialmente os telejornais subvencionados da Rede Globo, nos brindam com uma enxurrada de promessas (sob forma de projetos, reformas e futuras realizações) em que o governo garante tomar providências para mudar a face miserável do país e tornar a vida do brasileiro – vá lá – mais palatável. Essas promessas custam aos cidadãos brasileiros quase 40% de tudo que produzem e raramente são cumpridas. Mesmo assim, o partido goza de uma popularidade considerável entre o eleitorado.

O conde russo Leon Tolstoi, dizia que a desgraça humana residia no fato de, para fugirmos dos ladrões ocasionais, entregarmos nossos destinos aos ladrões organizados que se vendem por benfeitores, os governos. Por sua vez, o cardeal Richelieu, garantia que o governo devia sempre ouvir mais e falar (prometer) menos. Exatamente o oposto do que o governo Lula faz em nosso país. De fato, o governo Lula começou sob a égide da mentira, prometendo criar dez milhões de novos empregos, liquidar com o analfabetismo, acabar com a fome e estabelecer, sem remissão, pela primeira vez na história da república, um regime de “justiça social”. Após 8 anos de mandato, pouca coisa se cumpriu. Se fosse um mineiro, como Tancredo Neves, ou um milico parcimonioso como Emílio Garrastazu Médici, Lula já teria enfiado a viola no saco e partido para outras paragens. Mas escudado pelos seus setenta e tantos por cento de popularidade e empenhando em eleger a sua candidata, ele permanece agarrado a idéia de que o esboço de uma promessa vale mais do que mil imagens.

Daí, a cornucópia da fortuna: são bilhões e bilhões que são liberados diuturnamente para universidades federais com os seus regimes de cotas pluri-supra-raciais, subvenções para PPPs (Putarias Púplicas e Privadas, apud Osíris Filho), ampliação de obras que nunca se realizam, empréstimos subvencionados para o estabelecimento do desenvolvimento sustentado, alianças com políticos que até outro dia eram seus adversários, alvissaras a personalidade que um dia foram vistas como personas non gratas pelo partido e incentivos a países subdesenvolvidos que num futuro nem tão distante, nos garantirão os votos necessários para que possamos ingressar no Conselho de Segurança da ONU. Isso para não falar, é claro, na burocracia planaltina, sempre insaciável e plena de haveres e direitos adquiridos.

No entanto, por uma estranha inversão de objetivos, o governo Lula acumula inúmeros escândalos como o emblemático caso Waldomiro Diniz, onde o sub-Chefe da Casa Civil e homem de confiança do ministro Zé Dirceu foi apontado como um especialista em tomar dinheiro da contravenção do jogo de bicho eletrônico para enfiar nos cofres de campanha do PT; o mensalão, cujos réus ainda não foram julgados e o escândalo da cooperativa habitacional Bancoop. É mantavel, mas o grande enigma para as consciências livres não é mais saber quantas promessas, escândalos, e manobras escusas como a que acabamos de assistir em São João Del Rey, aguardam a população brasileira no próximo ano. Mas sim, em que escala, amplitude ou proporção elas ocorrerão.

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