22 de abril de 2010

Ainda temos um minuto e quarenta segundos! O que a gente faz agora? Quer cantar?

Como todos sabem, a propósta desse blog é falar sobre o processo de formação da cultura nacional, mas hoje vou abrir uma exceção e falar sobre o processo de DESconstrução da cultura nacional.

Estava eu aqui, como a Inês de Castro, de Camões, "posto em sossego", quando um amigo me enviou o video da entrevista que a candidata petista, Dilma Rousseff, concedeu ao Datena. Como sintetizar a entrevista? Acho que esta fala de Datena diz tudo: "Temos ainda um minuto e quarenta segundos. O que a gente faz? Quer cantar?" Como a petista não tinha mais nada a dizer, ensaiou: "El día que me quieras"... E soltou mais uns dois versos em "embromacíon", a versão em espanhol do "embromation".

Esse não foi o único momento constrangedor da cadidata. Houveram outros, daqueles que causam vergonha alheia. Faltando uns três minutos para o fim do programa, o apresentador mandou ver: "A senhora até agora não me deu a manchete. Diga alguma coisa pra ser manchete". E ela, com aquela sua descontração natural, emendou: "Achei a entrevista com você o máximo!".

Mas nem uma coisa nem outra foram o auge do constrangimento. Alguma coisa combinada nos bastidores não deu certo, e Dilma sofreu um apagão mental no meio da entrevista. Datena: "A senhora me falou que ia dizer uma coisa aqui pela primeira vez". Dilma arregalou os olhos, passou a olhar desesperadamente o vazio em busca de algum auxílio, enrolou palavras sem muito nexo até que achou a idéia luminosa: "Eu quero dizer que eu amo o meu país e que já é muita coisa ter chegado até aqui". E o apresentador um tanto surpreso com o comportamento basbaque dela: "Mas isso não quer dizer que já esteja bom". E Dilma: "Não! Lembro sempre a mãe do presidente, que falava: "Teime, Lula, teime!"

Gostaria de transcrever para que o referido episódio possa entrar para a história da DESconstrução da identidade cultural do brasileiro através do uso - ou melhor, estupro - da línguagem:

DILMA -
Olhe, eu queria dizer uma coisa assim… Eu acho que pra mim, tá?, esses anos que passei lá em Brasília, no governo federal, foi (sic) um momento especial na minha vida, Porque eu sou de uma geração que sempre quis transformar o Brasil, sempre queria um, um… país mais justo. E, aí, o que é que acontece? Acontece que a gente… Muita gente ficou pra trás. E, muitas vezes, né?, cê ficava pensando: "Mas será que, nessa etapa da minha vida, já pro…, já pra segunda metade, né?, eu vou ter essa oportunidade?" E eu quero te dizer o seguinte: eu me sinto muito feliz de ter chegado até aqui. Já sou muito grata por ter chegado até aqui. E, é…, uma coisa que fica muito dentro de mim, né?… Se ocê me perguntasse: "MAS O QUE É QUE OCÊ QUER DIZER MESMO COM ISSO? Eu quero dizer o seguinte: “Eu amo o meu país". E, já ter chegado aqui, para mim, foi uma grande conquista.

DATENA - Isso não quer dizer que já é o suficiente, né?

DILMA - Não! Porque a gente, qualquer um de nós, quem tá me escutando sabe disso, homens e mulheres, uma das melhores coisas da gente é que a gente não desiste nunca, né? Nós não desistimos. Como dizia a mãe do presidente pra ele: "Teime, Teime Lula". É isso que eu digo pra mim mesma: "Dilma, teime".

Se você leitor está acostumado a fortes emoções, assista ao vídeo abaixo:

Como se nota, a fala de Dilma vai se fragmentando e se perdendo em anacolutos, com parênteses dentro de parênteses, onde ela intercalava frases, metendo apostos em apostos… O raciocínio não era um novelo que se desenrolava, mas uma grande embromação. Depois de algum tempo, ninguém entendia mais nada (inclusive o Datena).

O que é isso? Efeito da marquetagem. É a equipe de campanha dizendo à candidata que ela tem de se mostrar mais humana, fazer um discurso menos tecnocrático, ser menos rígida, mostrar-se uma pessoa amorável, cordata, doce, próxima… Tudo aquilo que ela não é.

Por isso acabou estrelando esse momento patético, em que fica tentando arrancar palavras do vazio para provar a sua ternura, forçando um certo suspense emocionado que termina na frase estupenda: “EU AMO O MEU PAÍS”. Mais: sua resposta dá a entender que já chegou longe demais…

O alinhamento de Datena com Lula, o PT e Dilma é conhecido. Atuou, durante a entrevista, como um advogado entusiasmado do governismo e tradutor do que ela dizia. Mas o esforço, parece, não foi bem-sucedido. Queria algo que, afinal, fosse notícia nos sites e nos jornais. Aos cinco minutos (desse trecho), cobra:

DATENA - Me dá uma notícia que vai sair no jornal amanhã. A senhora não me deu nenhuma até agora.

E Dilma respondeu com aquela descontração natural: "A minha manchete é a seguinte: eu achei a entrevista com você o máximo!"

Dizer o quê. O petistíssimo apresentador, certamente sem querer, encerrou o programa com uma pergunta-emblema, aos 5min29s:

DATENA - Olha, é… Temos um minuto e quarenta, o que a gente poderia fazer? Dançar, eu não sei dançar; cantar um tango, eu não sei cantar. Eu acho que nós (sic) já esgotamos tudo que tinha de falar…

DILMA - Eu sabia cantar, mas a minha voz tá ruim também…

DATENA - Experimenta um pouquinho…

DILMA - Não, não… El día que me quieras…

Pode não saber cantar. Mas, se não mudar a toada, tem tudo para dançar.

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