31 de março de 2010

No início, era o verbo

Após alguns meses escrevendo exaustivamente sobre política, descobri que seria melhor abandonar, ao menos parcialmente, este assunto e voltar a falar de amenidades. Naturalmente, a política continuará a fazer parte da minha vida, afinal, o homem é um animal político. Não importa o quanto eu relute, o vírus da chatice continuará me impelindo a escrever sobre coisas maçantes como a campanha eleitoral que se aproxima e as diatribes do presidente Lula.

Na filosofia aristotélica, política é a ciência da busca pela felicidade humana. Para alcançar tão nobre objetivo, ela se divide em duas partes: a ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na pólis) e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva da pólis). Se você é brasileiro, sabe que a definição de Aristóteles está longe de ser compatível com aquilo que presenciamos em nosso dia-a-dia. Na realidade, política é aquilo que Hobbes, um pessimista convicto, definiu como: "o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados". De fato, os políticos dividem os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos. Dito isso, fica fácil concluir porque decidi encerrar as atividades do meu antigo blog. Não quero ser instrumento e tão pouco inimigo de quem quer que seja. Como diria Ortega: "eu sou eu e minhas circunstâncias, se não as salvo, não me salvo".

Pois bem! Estou salvando as minhas circunstâncias admitindo que a política fez com que eu me esquecesse das coisas que me são caras e passasse a agir de forma mimética; algo como "se todos atacam o X eu sairei em sua defesa". O raciocínio é cretino, mas exemplifica o grau de degradação moral a que cheguei desde que comecei a me imiscuir em assuntos eminentemente políticos. Eu devia ter notado que não há nada mais cretino e cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem. Felizmente, já inventaram a cura para a imbecilidade e a cretinice: chama-se autocrítica!

Neste novo blog, vou retomar a minha ambição de falar sobre assuntos que não envolvem, ao menos diretamente, a política do nosso país. Aqui, os meus leitores encontrarão artigos sobre literatura, cinema e etc. Sim, caro leitor! Estou cansado de ver minhas idéias degenerando em crônicas e artigos políticos sem a menor profundidade. Por isso decidi voltar a escrever apenas artigos ligados a produção cultural. Daqui para frente, falarei sobre o processo de formação da identidade cultural do brasileiro sem fazer concessões ou me valer de recursos lingüísticos como o futuro do pretérito. Minha proposta é traçar um paralelo entre a cultura e a sociedade sem cometer o erro de Burnett, que tentou explicar o mundo em que vivemos com base nas suas manifestações culturais. A idéia é falar sobre os acontecimentos que nos cercam sem cair no lugar comum dos blogs: a política por si só.

Naturalmente, existem aqueles leitores que apreciavam o estilo, digamos, mais ríspido, do meu antigo blog. Se você é um desses, não tem com o que se preocupar. Quem me conhece, sabe que prefiro uma parcialidade exacerbada a uma isenção mascarada. Não tenho a menor intenção de disfarçar o meu desprezo pela lógica do "meio-termo", pois continuo acreditando que é melhor ser um radical democrático a flertar abertamente com uma moderação de inspirações fascistas. Podemos dizer que este novo blog simboliza o triunfo da estética e da moral sobre a política suja com a qual estamos acostumados. Ele marca o ponto em que decidi abandonar aqueles textos chatos que tratam das agudezas da vida em sociedade para ensaiar uma ida ao mundo sofisticado da cultura.

Sejam bem vindos!

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Um comentário:

  1. Sigo com vigor e firmeza de quem, após um texto desse e de alguns dedos de prosa pessoalmente, se tornou um fã.

    F.M.

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